domingo, 7 de setembro de 2008

Um Caminho Mágico na Educação


Por alguns minutos estive a conversar com uma das pessoas mais humanas que já vi na vida. Humanos todos nós somos, é claro. Mas o tipo de humano a que me refiro é aquele que, além de carne e osso, é amor e sonhos. O nome dele? Jorge. Jorge Lúcio, Coordenador do Centro Avançado de Ciências do Colégio Estadual Odorico Tavares. Ele me contava, ou melhor, me cantava, pois o que falava soava-me como uma canção, sobre a sua aprovação num concurso para professor substituto de uma universidade, que a meu ver, conquanto minha experiência com ela ainda seja insignificante, grita como doente por remédios chamados sonho, união, compreensão e humildade. A propósito, seu nome, Universidade Federal da Bahia.

Jorge contou-me sobre o grande sonho, que sempre teve, de conseguir retribuir todo o seu conhecimento teórico e laboratorial de Física às pessoas. A oportunidade chegou, embora a sua decisão de aproveitá-la tenha vindo prestes a uma viagem que faria com alguns garotos que ele costuma chamar de jovens cientistas. Acredito que estes garotos sejam grande parte da inspiração de Jorge, pois ele esporadicamente traz à tona no dia-a-dia, questões discutidas por eles enquanto jovens cientistas humanos. Então, sendo o processo seletivo um dia após a sua chegada, foi fácil perceber que o trabalho seria árduo.

O incentivo das pessoas ao seu redor, para que tentasse fazer o teste, estimulou-lhe ainda mais a enfrentar o desafio, e não fosse propositadamente, na sua chegada, veio a notícia do adiamento do concurso. Excelente! Mais um tempo para a preparação de um plano de aula coeso, pertinente, do modo como queria Jorge trazer a física aos seus possíveis futuros alunos. É claro, o medo de não ter um currículo à altura dos seus concorrentes o assustou. Entretanto, medos como esses são normais até entre os animais, quando dois machos lutam instintivamente, corpo a corpo, para agradar a uma fêmea que chegou ao tempo de reprodução.

Vinte e oito de julho de 2008. Foi este o dia da grande avaliação. Estavam lá os seus colegas de mestrado. Pessoas com quem conviveu por um tempo significativo. Era difícil vê-las como concorrentes. O nervosismo mostrou-se claro, naturalmente, e o mais desafiador de todos os testes que poderia ter feito, foi ter que dar uma aula, uma fantástica, impressionante aula, àqueles profissionais tão competentes, que em anos passados, foram os seus professores. Foram eles que ensinaram grande quantidade do que hoje é parte do seu conhecimento.

Finalmente era chegada a sua hora. A hora de ser avaliado. A hora de confirmar se todo o esforço feito até aquele dia tinha valido realmente à pena. Começar a falar foi difícil. Enfrentar tantos olhos, mais complicado ainda. Mas as palavras eram firmes, e a segurança de trazer algo inovador, também. Foram planos, afirmações, experiências e frustrações num discurso. Palavras que trouxeram à tona a relação entre o educador e o educando e a necessidade de um pouco de magia nas aulas tão técnicas vistas até então. As propostas foram fluindo aos poucos, e junto com elas a concordância dos professores ao escutarem sobre a contribuição de tantas idéias na vida dos estudantes. Ao término das suas palavras, o sentimento de ter dado uma das melhores aulas da sua vida, o sentimento de dever cumprido.

Trinta e um de julho de 2008. Poucos dias de espera, mas horas longas, muito longas. Era o dia do resultado. Nervosismo na chegada à universidade. Cego por ele, não ouviu, entendeu ou falou nada. Somente andou até o mural, onde estavam escritos os nomes. Chegado a ele, olhos apertados e coração palpitante. Leitura. Primeiro nome... Segundo nome... O terceiro. O terceiro lhe era familiar, afinal, era o seu nome. O seu nome, na terceira linha. No momento em que percebeu, um sentimento tomou conta do seu ser. O sentimento daquilo que estamos sempre em busca: felicidade. Como era bom sentir. Momento de felicidade e recordações. Recordações de semelhante sentimento em seu peito quando foi aprovado no vestibular para Física. Antes, era um estudante. Agora, era professor. Grandes responsabilidades, força e esperança.

Agora sim, estava muito mais feliz. Não era o último patamar da sua vida, mas um dos mais importantes, simplesmente por simbolizar o seu crescimento humano. Foi a hora de perceber que tinha vencido mais uma batalha na educação, e de ter a certeza de que esse é o caminho que precisa seguir. Com tudo isso, veio também a força para terminar o seu trabalho de Mestrado em Geofísica pela UFBA. E virão outras coisas. Coisas boas, não tão boas. Maravilhosas e frustrantes. Necessárias. Coisas da vida para lhe acrescentar maior valor humano.

Treze de agosto de 2008, primeiro dia de aulas. Felicidade por não desistir de um sonho. Outro mundo... O respeito das pessoas... O sentimento de que agora faz parte daquelas pessoas...

Mariana Rodrigues Sebastião

Estudante de Jornalismo da UFBA e estagiária do Projeto Social de Educação, Vocação e Divulgação Científica "Ciência, Arte & Magia"/UFBA


5 comentários:

Anônimo disse...

História linda, narração tocante!

Prof. Andre Vieira disse...

Olá Mariana.
Meu nome é Andre, sou professor de Física aqui no Rio de Janeiro e me identifiquei um pouco com seu texto, pois já passei por situação semelhante quando fui professor substituto aqui na UFRuralRJ.
Gostei muito do blog, e sinto muita carência de um jornalismo científico de qualidade. Pelo visto, qualidade é que não falta no seu trabalho.
Espero ler muito artigos assinados por vc num futuro próximo. Sucesso!

Anônimo disse...

O jornalismo científico com alma e magia, o Brasil precisa de pessoas que escrevam dessa forma, obrigado por tudo.

Prof. Andre Vieira disse...

Olá Mariana!
Envie notícias sempre que puder.
Abçs.

Anônimo disse...

Eu não conheço a muito tempo o professor Jorge Lucio.Tive essa sorte quando entrei no ciência arte e magia do Colégio Estadual Odorico Tavares.E concordo com o que o texto diz.Pelo pouco tempo de convivência percebo toda essa dedicação e esforço .Só temos que agradecer a Deus e pedir para que ele continue iluminando o seu caminho.

Lucas Lordelo