sábado, 17 de maio de 2008

Observar, observar, sempre observar! Pe. Jorge Polman

Por Rosimere Lira.

Em 2004, Audemário Prazeres¹ publicou pela primeira vez na rede mundial de computadores (internet), na revista Macrocosmo, uma matéria contando um pouco do pioneirismo de Pe. Jorge Polman, e sua enorme contribuição no que se refere à divulgação da Astronomia no Brasil². Concordo plenamente com ele, quando disse que é extremamente importante, principalmente por aqueles que tiveram a oportunidade de conviver com o “Grande Mestre”, divulgar seus méritos astronômicos, e como professor. Holandês de nascença, pernambucano por opção e brasileiro acima de tudo por sua dedicação. Aproveito o espaço para deixar também registrada uma pequena homenagem ao meu querido professor de Ciências, Padre Jorge, na 5ª série do ensino fundamental do Colégio São João da Várzea, Recife, Pernambuco no ano de 1976. Johannes Michael Antonius Polman, nasceu no dia 07 de janeiro de 1927, na cidade de Amsterdan, Holanda. Antes de chegar ao Brasil era militar holandês, e chegou inclusive a participar da guerra da Indonésia em 1949, onde manobrava tanques de guerra. Sua chegada ao Brasil se deu no ano de 1952, até então não era conhecido como padre Jorge, pois não era padre ainda, este feito veio a ocorrer no ano de 1957, no Seminário Menor da Várzea, pertencente à Ordem do Sagrado Coração de Jesus, quando recebeu ordenação de sacerdote no dia 01 de novembro, onde a partir desse momento ficou largamente conhecido como Padre Jorge Polman.

Padre Jorge era extremante carismático, moderno, criativo e inovador, tinha sempre um sorriso nos olhos, como aparece na foto acima, e tudo no colégio parecia girar em torno dele, pois quando passava pelos corredores e pátio, os alunos sempre o abordavam com algum assunto, principalmente sobre Astronomia, e ao redor dele se aglomeravam estudantes sedentos por conhecimento. No primeiro dia de aula de cada turma, todos os alunos eram levados por ele para conhecer o que já era comentário de toda escola, o CEA (Clube Estudantil de Astronomia), fundado no ano de 1972, onde estava localizado o famoso observatório de Padre Jorge. Este prédio possuía uma sala-auditório, banheiros, um quarto (aposento de Pe. Jorge, onde ele possuía uma biblioteca particular com inúmeros livros de Astronomia), uma sala recepção, uma oficina, uma pequena sala com quadros e experimentos. No 1º andar havia a sala da Hora, ou sala do Tempo com vários relógios, e uma sala pequena onda havia uma escada de acesso às cúpulas que na época abrigava um telúrico feito pelo próprio Pe. Jorge, além de vários mapas estelares em um armário próprio.


Pela primeira vez, neste dia observei o céu através de seu telescópio newtoniano de 6’’, com micro-regulagem manual, carinhosamente apelidado de tequinho, por ter sido o primeiro instrumento com que se viu no Brasil o cometa Kohoutek. Esse foi um momento inesquecível tanto para mim, quanto para meus colegas, todos no alto dos seus 10 a 11 anos de idade! Motivados por observar a beleza e grandiosidade do Universo, é que muitos estudantes passavam a freqüentar o CEA. Vale salientar que as meninas não eram admitidas no Clube, pois como o mesmo funcionava dentro do Mosteiro de padres, e à noite, não era permitida a entrada de moças. Ricardo Lira, meu irmão, era aluno da 7ª série do ensino fundamental do colégio na época, e foi aluno do CEA. Ele possuía uma carteira de sócio do Clube, e muitas vezes, me mostrou no céu várias constelações e planetas. Em recente troca de e-mails a respeito da reportagem feita pelo Audemário, ele me escreveu o seguinte:

Obrigado pela lembrança e pela matéria. É sempre bom relembrar momentos importantes em nossa vida, e, certamente este foi um deles. O pouco que aprendi sobre Astronomia com Pe. Jorge, trago comigo até hoje, e em alguns momentos, foram de grande utilidade e inspiração”.

As aulas de ciências eram sempre muito esperadas, pois aconteciam no laboratório, que ficava no 1º andar do prédio anexo ao pavilhão de aulas, e eram experimentais. Pela primeira vez, naquele ano, participei de uma Feira de Ciências, onde cada um dos alunos do meu grupo ganhou uma medalha de “Honra ao Mérito”, pelo melhor trabalho da 5ª série. Construímos um destilador!

Padre Jorge faleceu no dia 02 de julho de 1986, aos 59 anos vítima de um AVC (acidente vascular cerebral), provavelmente provocado pelo enorme desgosto de saber que seu ideal, que eram as instituições SAR (Sociedade Astronômica do Recife) e CEA, estavam chegando ao fim, juntamente com seu enorme patrimônio, conquistado com muito esforço e dedicação estavam tomando destino ignorado. Vale salientar que Pe. Jorge foi convidado para inauguração da Unidade de Extensão da Universidade e Observatório Astronômico de Antares em Feira de Santana, na Bahia, pelo presidente do Conselho da Fundação da Universidade Estadual de Feira de Santana, Dr. Geraldo Leite, em 19 de outubro de 1974. Podemos considerar que as atividades iniciadas no CEA eram de ensino não-formal, como são as desenvolvidas nos Centros Avançados de Ciências do Projeto Ciência, Arte & Magia. Jamais esquecerei Pe. Jorge, e percebo isso toda vez que me sinto emocionada por alguém que diz o que disse um estudante na entrevista de seleção da 1ª turma para o Centro do Colégio da Polícia Militar em 2005. O estudante Danilo Moreira de Sá, quando perguntado sobre o que mais gostava de fazer, me respondeu simplesmente: “Olhar para o céu, e observar as estrelas!”.

1 – Audemário Prazeres, Presidente da Sociedade Astronômica do Recife – S.A.R., sendo ex-aluno e grande admirador do Pe. Jorge Polman, o “GRANDE MESTRE”.

2 – PRAZERES, A. Observar, observar, sempre observar!. Revista macroCOSMO.com, ano I, Edição nº 8, Julho de 2004. Disponível on line em:http://www.revistamacrocosmo.com/edicoes/download/pdf/ macrocosmo8.pdf. Acessado no dia: 20 de Março de 2008.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá,

O meu nome é Marcílio de Souza Oliveira, ex-aluno do Pe. Jorge do CEA. Gostei muito de seu artigo! Se lhe interessar, tenho foto do diário de pernambuco sobre o kohoutek visto do CEA. Tem uma foto onde aparece eu, José Barata (angolano) e o Pe Jorge, na hora que o Koholtek passou por aqui!

Abraços

Marcilio.

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